domingo, 10 de maio de 2015

TATUAGEM E TABU - ARTE ANTIGA E POUCO COMPREENDIDA



Tabu: do polinésio (Tongan e Maori) aquilo que é sagrado, intocável



Tattoo: do polinésio a arte de pintar o corpo

A tatuagem foi durante muito tempo tratada como um tabu pela sociedade ocidental, coisa do submundo pertencente aos marinheiros, prostitutas e foras da lei. Foi só com a exposição na grande mídia que aos poucos esse paradigma foi sendo modificado e a arte da tatuagem ganhou espaço nas ruas e no mercado de trabalho.

A trajetória dessa nobre e antiga forma de arte remota alguns milênios, o homem de Otzi encontrado nos Alpes entre a Áustria e Itália é a mais antiga múmia tatuada, com cerca de 5300 anos. Praticada no mundo todo por diversas culturas, sua forma moderna se deve aos povos das ilhas da polinésia no pacífico sul.

Foi por volta de meados do Sec. XVIII que o capitão Inglês James Cook, teve contato com grupos tatuados nas ilhas do Taiti e Aoteaora(atual Nova Zelândia), onde a arte era praticada pelos nobres e guerreiros como símbolo de status e identidade social. Posteriormente a tatuagem foi levada para o Ocidente na pele dos marinheiros que cruzavam os mares do Sul. Vários nobres da Europa como o rei George V da Inglaterra, seu primo o Cza Nicolau II e Frederick IX da Dinamarca eram adeptos da nova moda vinda dos povos distantes. George V por exemplo tinha um dragão feito quando jovem a serviço da Armada Inglesa de autoria do mestre japonês Horichiyo.

O que parecia ser o ressurgimento da arte da Europa sofre um revés, em 1879 a justiça inglesa adota a tatuagem para identificação de prisioneiros e a partir dai a tatuagem ganha uma conotação marginal. O preconceito ganha ainda um reforço maior a partir da equivocada publicação “L ´Uomo Delincuente” do médico Italiano Cesare Lombroso.

A tatuagem nos primeiros anos do Século XX foi vista como costume bizarro a ser exibida em atrações do tipo “freak shows” de circos como o famoso Rigling Brothers.

A reabilitação da tatuagem no Ocidente só reinicia a partir da Segunda Guerra, quando os fuzileiros navais americanos adotam a arte corporal como símbolo de bravura e amor a pátria. É nesse contexto que surgem os estúdios de tatuagem modernos próximos a bases da marinha, como o do famoso tatuador e pioneiro americano Sailor Jerry. O personagem infantil Popeye, que era tatuado, é um bom exemplo desse novo momento da tatuagem.

Foi só entre os anos 60 e 70 que a tatuagem cruzou com o mundo da música e várias personalidades do Rock passaram a ostentar tatuagens representando liberdade e rebeldia. Astros como Janis Jolpin, Bon Scott do ACDC e Ozzy Osbourne faziam questão de mostrar seus desenhos em capas de disco e fotos de divulgação.

Nesse período a indústria da tatuagem ganha força, grandes fabricantes de tintas e suplementos surgem e as Convenções de Artistas ao redor do mundo contam com a participação de milhares de pessoas, alguns até sem nenhuma tatuagem.

A grande virada com relação ao tabu, de fato acontece nas primeiras décadas do segundo milênio, programas de TV a cabo como Miami Ink, Los Angeles Ink e Ink Master e a própria Internet foram cruciais para uma nova percepção da arte da tatuagem. Hoje ela passa a ser vista como linguagem corporal e expressão artística individual. Embora ainda exista um pouco de preconceito, é comum ver nas repartições públicas, consultórios, escritórios e lojas competentes profissionais exibindo orgulhosamente suas tatuagens.

Espera-se que com o decorrer dos anos esse forma de arte tão antiga quando a própria civilização seja despida de todos os tabus e preconceitos e abraçado como uma manifestação autêntica da natureza criativa do homem.



Muitas águas ainda vão correr!


Tatuagens da Pincesa Ukok, mumia encontrada na Sibéria com aproximadamente 2500 anos.


Uma das Tatuagens do Homem de Otz, 5300 A.C.


Capitão Cook batizou a pratica com o nome de Tattoo



Sailor Jerry um dos prioneiros da Tatuagem moderna.



O joven principe Albert, futuro George V sendo tatuado por Horichyio.







Sóstenes Carneiro Lopes
Jornalista de formação, é tatuador no
 estúdio Mahadeva Custom Tattoo e 
Professor de Linguagem Visual na 
graduação em Arte e Midia /UFCG

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